Como ler as Pesquisas Eleitorais (por Ricardo Guedes)

As pesquisas de opinião baseiam-se na teoria estatística da representatividade de uma amostra dentro [...]


As pesquisas de opinião baseiam-se na teoria estatística da representatividade de uma amostra dentro de um universo segundo uma margem de erro.

Quando lemos uma pesquisa eleitoral, ficam sempre três perguntas. Primeiro, o quão exatos são os dados medidos e apresentados. Segundo, seria o valor preditivo da pesquisa. Terceiro, quais são os principais indicadores que devemos procurar e considerar.

Em primeiro lugar, as pesquisas de opinião e eleitorais são experimentos estatísticos, por isso não exatos. Podem existir erros na conceção da amostra, erros de campo, e o erro estatístico da amostra coletada, O erro estatístico, chamado de “margem de erro”, representa a variação da amostra segundo um tamanho amostral dentro de um universo definido, para um dado grau de confiança. Por exemplo, para universos ≥ 240.000 (considerados infinitos), para 1.000 casos coletados na amostra temos uma “margem de erro” = ± 3%, para “índice de confiança” = 95%. Isto significa que a cada 100 experimentos realizados com os mesmos procedimentos amostrais, os índices coletados serão de até ± 3% em 95 experimentos, saindo dos limites de ± 3% para cada 5 de cada 100 experimentos. Os dados coletados não são exatos, mas estatísticos.

Interessante observar uma questão linguística. Em português, a palavra “erro” tem uma conotação negativa, tendo sido a expressão “margem de erro” originalmente traduzida do termo “margin of error” da língua inglesa. Em inglês, “mistake” expressa conotação negativa, enquanto que “error” pode significar tanto um equívoco dentro de algo intencionalmente objetivado, significando também “índice de variação técnica”. Dentro da estatística, teria sido melhor ter traduzido o termo “margin of error” por “margem de variação técnica”, melhor se adequando ao significado original da expressão.

Em segundo lugar, o valor preditivo das pesquisas eleitorais é limitado. As Ciências Físicas têm maior grau de predição do que as Ciências Biológicas, por sua vez de maior predição do que nas Ciências Sociais. As percepções e fatos sociais são mutáveis, com maior inconstância ao longo do tempo. Nas pesquisas eleitorais, quanto mais estável for uma sociedade e quanto mais próximo das eleições, a pesquisa terá maior possibilidade de coincidir com os resultados eleitorais, mas não prever. O experimento estatístico é uma medição do momento da coleta da amostra, podendo as percepções e decisão de voto ter variações mais ou menos intensas no dia das eleições, principalmente em ambientes politicamente mais instáveis, como no caso do Brasil, e na maior parte dos países do mundo.

Em terceiro lugar, nos resultados das pesquisas eleitorais é importante se observar a avaliação do governo, o voto espontâneo, o voto estimulado e a rejeição dos candidatos. Na avaliação do governo, o “ótimo + bom”, quando a aprovação é  ≥ 50%, o incumbente se reelege, ou tende a eleger o seu sucessor; entre 40% e 50%, concorre nas eleições; e quando < 40%, tende a não se reeleger. Com relação ao voto espontâneo e o voto estimulado, quanto mais próximos são os resultados desses dois indicadores, maior a definição das eleições. Indefinições de até 20% nas pesquisas às vésperas das eleições indicam maior estabilidade do pleito; acima de 20%. maior possibilidade de variações de última hora. Com relação à rejeição, candidatos com rejeição individual no total do eleitorado acima de 40% dificilmente se elegem, já que do total de 100% do eleitorado, 20% em média vão para abstenção, brancos e nulos, com 80% do eleitorado votante, no que rejeições acima de 40% dentro dos 80% votantes são impeditivas para se eleger em 2º turno.

Deve-se também prestar atenção a eleições muito polarizadas, com os candidatos indo além dos 40% de rejeição no 2º turno, vencendo o candidato de menor rejeição.

As pesquisas de opinião e eleitorais não são instrumentos precisos. Mas melhor com elas do que sem elas, como referências de ponto de situação.

Ricardo Guedes é Formado em Física pela UFRJ e Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago. CEO da Sensus, foi professor de Metodologia de Pesquisa do Mestrado em Sociologia da UFMG

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