Quando o medo da tecnologia vira autossabotagem (por Danielle Balieiro Amorim)

O problema não é a tecnologia. É a preguiça de aprender. [...]

Tem algo curioso acontecendo no mercado de trabalho brasileiro. Enquanto uma parte dos profissionais está experimentando, testando e aprendendo a usar IA para melhorar seu trabalho, outra parte está… reclamando. Criticando. Boicotando. E o pior: sem nem ao menos ter testado.

Escrevo para o CAPABRASIL há um mês. E posso te garantir: a IA não roubou meu trabalho de jornalista. Ela me tornou uma jornalista melhor, mais rápida, mais eficiente. Este texto? Está sendo escrito com ajuda da inteligência artificial. E não, isso não me faz menos profissional. Me faz mais estratégica.

A ironia é gritante: as mesmas pessoas que passam horas no Instagram vendo reels (alimentados por algoritmos de lA), que pedem música pro Spotify (curadoria feita por IA), que usam GPS no trânsito (otimizado por IA) são as primeiras a dizer que “IA é uma ameaça”.

O problema não é a tecnologia. É a preguiça de aprender.

No meu caso, como jornalista e ghost-writer, a IA virou uma parceira de trabalho. Ela me ajuda com pesquisas, aponta redundâncias, erros gramaticais, e no final, verifica se minha mensagem está clara para quem vai ler.

Recentemente conclui um curso incrível, Escrita Invisível, sobre Ghost Writing com a Ariane Abdallah. E uma das coisas mais valiosas que ela ensina é justamente sobre o processo de trabalhar com IA. Ela mesma diz que não se importa em ficar uma hora no mesmo parágrafo, indo e voltando com a inteligência artificial.

Por quê? Porque a IA traz ângulos que você não viu, perspectivas que não percebeu, caminhos que não explorou. Mas – e isso é fundamental – você não precisa concordar com tudo. A IA sugere, você decide. Ela amplia suas possibilidades, você escolhe o caminho.

É exatamente o que estamos fazendo agora, enquanto escrevo este texto. Vou e volto. Ajusto. Refino. A IA me mostra opções, eu seleciono o que faz sentido para o MEU estilo, para a MINHA mensagem.

E se você acha que isso é exclusividade de quem escreve, está enganado. Essa mesma revolução está acontecendo em praticamente todos os setores profissionais.

Na medicina, radiologistas usam IA para detectar tumores com precisão assustadora. Na engenharia, projetos que levavam semanas são simulados em dias. No atendimento ao cliente, chatbots resolvem 70% das demandas, liberando humanos para casos complexos. Trabalhei 15 anos na Accenture, uma das pioneiras globais em implementação de IA. Lá dentro, vi de perto como funciona: a empresa investe pesado em capacitação – cursos, certificações, treinamentos

contínuos para que os profissionais dominem essas ferramentas. É uma aposta clara na evolução das pessoas, não na substituição delas.

Mas enquanto empresas como a Accenture correm para capacitar seus times, muitos empresários brasileiros simplesmente… resistem. Não querem investir em treinamento. Não querem implementar melhorias. Preferem manter tudo como sempre foi.

E no fundo, o que está por trás dessa resistência toda? Medo.

Medo de usar o que não conhecemos. Medo de que vão “roubar nossas ideias”. Medo de parecer menos competente por precisar de ajuda de uma máquina. Medo de admitir que não sabemos tudo.

Mas aqui vai a real: toda tecnologia disruptiva gerou esse mesmo medo. Calculadoras iam acabar com matemáticos. Computadores iam eliminar escritórios. Internet ia destruir livrarias. E o que aconteceu? As profissões evoluíram. Quem se adaptou, cresceu. Quem resistiu, ficou para trás.

Aliás, sabe este texto que você está lendo? Não saiu pronto. Estou há uns 30 minutos trabalhando nele com a lA. Ela me sugeriu coisas que eu não gostei. Eu pedi ajustes. Ela trouxe novos ângulos. Eu escolhi alguns, descartei outros.

Esse é o ponto: a IA não entrega nada “pronto de primeira”. Ela é uma ferramenta que potencializa SEU conhecimento, SEU estilo, SUA experiência. Quem acha que vai simplesmente apertar um botão e sair um texto perfeito não entendeu nada.

Você, empresário, que não quer “gastar” com cursos de IA para sua equipe: seu concorrente está gastando. E ele vai te ultrapassar.

Você, gestor, que proíbe sua equipe de usar ferramentas de lA: sua equipe está usando escondido. Ou pior, está saindo da sua empresa para trabalhar em lugares mais modernos.

Enquanto você boicota, seus concorrentes estão produzindo mais conteúdo em menos tempo, aprendendo novas habilidades mais rápido, entregando trabalhos com menos erros, e tendo tempo para focar no que realmente importa: estratégia e criatividade.

A pergunta não é “a IA vai roubar meu emprego?” A pergunta certa é: “um profissional que usa IA vai roubar MEU emprego?”

Danielle Balieiro Amorim é Jornalista, Escritora e Ghost-Writer. Na Accenture, desenvolveu expertise em Comunicação, Gestão de Pessoas, PMO, Treinamento e Desenvolvimento, entre outras áreas. Escreve duas colunas semanais para o jornal Diário de Taubaté e para revistas brasileiras nos Estados Unidos. Tradutora dos idiomas Inglês, Português e Espanhol. Autora do livro infantil “As Aventuras de Ximin em: Floresta Mágica”. Podcast para crianças no Youtube: “Contos para Sorrir”.

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