Às armas (por Nestor de Oliveira)

Há alguns anos, final do século passado, diante da brutal estatística de mortes no trânsito, um certo veículo de comunicação brasileiro fez uma campanha cujo tema era [...]

Há alguns anos, final do século passado, diante da brutal estatística de mortes no trânsito, um certo veículo de comunicação brasileiro fez uma campanha cujo tema era “Não faça de seu carro uma arma. A vítima pode ser você.” Apesar da força e justificada propriedade de seus dizeres o resultado não foi animador, os números de morte não diminuíram, ao contrário, aumentaram. Pelo crescimento de veículos nos últimos anos, violência do trânsito urbano, pela péssima qualidade de nossas estradas e descumprimento das leis pelos motoristas, estes números mais que dobraram. Atualmente temos mais de 6.000 mortes por ano e mais de 80.000 feridos, alguns em estado grave ou em total paralisia. Conclusão, os brasileiros continuam a fazer do carro uma arma, e por consequência vítimas dele.

Lembro-me desta campanha para falar de outra arma poderosa e da qual estaremos fazendo uso brevemente. Se soubermos usar, assim como os carros, poderemos transformar nosso país, revolucionar a educação, democratizar a saúde, crescer economicamente, diminuir a violência e respeito à propriedade, zelar pelo ambiente. Se ao contrário a usarmos como arma de vingança, protesto, desleixo ou ódio iremos dobrar nossos problemas que já não são poucos. Estou falando do voto.

Instrumento essencial à democracia, direito dos povos democráticos e civilizados, arma da mudança e correção dos erros dos ocupantes de cargos eletivos, o voto é a melhor e única forma, ao nosso alcance, de construção de um futuro que nos dê, a todos, segurança, prosperidade e equilíbrio social. E aí está um de nossos mais graves problemas. Em quem votar?

Nosso sistema político foi estruturado, a partir da Constituição de 1988, com arcabouço apropriado ao sistema parlamentarista, onde o governo eleito constrói maioria no Congresso, através de acordos entre os partidos que assegurariam a governabilidade. Se o governo perder a maioria cai, mantem-se o presidente e forma-se um novo governo. Com certeza é sistema mais democrático e eficiente, ao contrário de nossa estrutura vigente onde quase nunca o presidente tem, ou constrói, maioria no Congresso, só a obtendo através de negociações nada ortodoxas. De onde vem este erro capital? Na minha opinião está no excesso de partidos políticos que tumultuam qualquer ambiente democrático. Transformaram-se em cartórios cujos donos os negociam a seu bel prazer, sem ideologia, objetivos, causas a serem defendidas nem busca da defesa do bem público. Temos mais de trinta partidos, agora a manipularem a imoral fortuna de recursos públicos destinados às eleições. Não há como ter esperança com este quadro político-eleitoral. Perdemos grande oportunidade quando se institui a cláusula de barreira, ou seja, o partido não sobreviveria se não alcançasse determinado número de votos nas diversas regiões do país. No entanto, esta cláusula foi derrubada pelo Superior Tribunal Federal, numa interferência injustificável na legislação, assim como tem acometido outras de igual, ou pior, consequência. O desconhecimento das consequências, a arrogância e complexo de Zeus, orientaram tal decisão.

As campanhas eleitorais brevemente estarão nas ruas, promessas já estão sendo feitas para nos conduzirem ao paraíso, mas não acredito que alguma mudança acontecerá com os candidatos insinuados. Não há como esperar alguma coisa de onde nunca veio nada.  Nossa resistência, e paciência, há de nos fazer esperar para as próximas eleições federais. Resta, agora, parafrasear a campanha do trânsito:

Não faça do seu voto uma arma, a vítima, com certeza, será você”.              

 
Nestor de Oliveira é Jornalista e Escritor

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