
É fato que as pesquisas de intenção de voto seguem um roteiro fechado. O estrategista é quase que obrigado a colocar o nome de vários candidatos no questionário. Isto é um pecado mortal para a análise e a previsão eleitoral. Os competidores que aparecem bem-posicionados acreditam piamente que serão vencedores e, claro, podem até ser. Por outro lado, os que não estão podem ser os vitoriosos. Neste caso, o argumento tradicional: Pesquisa de intenção de voto é o retrato do momento.
Na pesquisa quantitativa, existe a intenção de voto espontânea. Ela, ao contrário da intenção de voto estimulada, é bem esclarecedora. Geralmente, quando a eleição está um pouco distante, os competidores bem conhecidos pontuam, outros não, os quais, inclusive, podem vir a ser eleitos. O dado mais importante que a indagação espontânea traz é a presença de um alto porcentual de eleitores que não sabem em quem votar.
Verificamos nas pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência – as quais são realizadas através da técnica entrevista em profundidade – o “estado de dúvida do eleitor”, que representa o sentimento do votante para com a sua escolha eleitoral. É comum encontrar as seguintes expressões em diversos Estados: “Vou aguardar os candidatos”, “Está cedo ainda. Vamos ver se melhora”, “Estou gostando, mas ainda não decidi”. O estado de dúvida diz mais sobre o resultado das futuras eleições para governador e presidente da República do que a tradicional intenção de voto estimulada.
Em várias unidades da federação que a Cenário realiza pesquisa qualitativa, constata-se quatro tipos de eleitores: 1) O eleitor de Lula que não tem dúvidas. Ele deseja a reeleição do presidente. É o eleitor convicto; 2) O eleitor seletivo, o qual é representado pelo seguinte sentimento: “Entre Lula e Bolsonaro, prefiro nenhum”; 3) O eleitor anti-Bolsonaro: “Se for Lula e Bolsonaro, prefiro Lula”; 4) E o votante que rejeita Lula: “Não voto na esquerda” e “Não voto em corrupto”, mas não necessariamente opta por Bolsonaro.
Nas pesquisas da Cenário fazemos a seguinte indagação: “Você prefere Lula, Bolsonaro ou nenhum dos dois?” Em 2024, a preferência por Lula predominava. Bolsonaro tinha razoável preferência. E “nenhum dos dois” baixa preferência. Todavia, desde junho deste ano, observamos que Lula segue como preferido, “nenhum dos dois aumentou”, e Bolsonaro sofre processo de desaparecimento. Ou seja: São poucos os que preferem o ex-presidente em diversos estados do Nordeste.
Por que o Bolsonaro sumiu? Em virtude da condenação pelo STF e o aumento da percepção do eleitor de que o ex-presidente não será candidato em 2026. Por consequência, o aumento do “nenhum dos dois”. E o que isto significa? Os eleitores que rejeitam Lula ou que não estão muito animados para votar nele estão à procura de um candidato.
Esclarecemos que apesar da alta aprovação de Lula em variados estados do Nordeste, a sua reprovação é persistente. Para muitos, Lula “Já foi bom”, “É corrupto”, “Está devagar”, “É da esquerda”. Todavia, a rejeição não será suficiente para frear a sua vitória entre os nordestinos. Por outro lado, os indicadores de rejeição e prefiro “nenhum dos dois” revelam que a disputa entre o presidente da República e o seu adversário será acirrada.
As pesquisas de intenção de voto podem estar cometendo um equívoco: Estimulando o eleitor a votar (opinar) num candidato contra Lula que não seja o desejado, ou seja, o opositor de Lula ainda pode surgir. Conclusão: Lula é favorito para vencer a eleição, mas quando a preferência por “nenhum dos dois” aumenta, algo está por vir.
*Artigo originalmente publicado no Jornal do Commercio
Adriano Oliveira é Cientista Político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa & Estratégia. Coautora: Maria Eduarda Oliveira é Graduanda em Ciência Política. Pesquisadora da Cenário Inteligência.

