
O futuro do homem é incerto.
Reassistindo o filme “Os últimos dias de Hitler”, o filme nos remete a questões fundamentais, a de quanto o homem chega a absurdos, onde a morte prevalece sobre a vida, a irracionalidade sobre a razão. Hitler, sob seus mais estapafúrdios ideais, vocifera sobre a lealdade de seus súditos, à porta da morte, optando pelo suicídio como se fosse o mártir de um ideal, ao custo de milhões de vidas. E isto foi ontem. É a “banalidade do mal”, como descrito por Hannah Arendt.
O mundo caminha em dois sentidos oblíquos e autodestrutivos. O primeiro, o da irracionalidade ecológica, com a destruição de seu meio ambiente, no infindo abuso de sua própria existência. Em 200 anos de Revolução Industrial, aumenta o bem-estar social, com a deterioração do meio ambiente. O planeta aquece e o aumento do nível do mar até o final deste século poderá gerar o exílio de mais de 1 bilhão de habitantes para o interior dos continentes, em “êxodo em proporções bíblicas”, nas palavras de António Guterres, Secretário Geral da ONU.
O segundo, o da irracionalidade das decisões políticas. Segundo a Teoria dos Jogos, a somatória de ações racionais pode levar a uma consequência irracional. Por exemplo, erros de percepção podem levar a guerras insolúveis, quando a legitimidade interna de cada governante depende do escalonamento de suas ações externas. Putin, por exemplo, para manter a legitimidade interna, depende de vencer a guerra da Ucrânia. Zelensky, por outro lado, também. E assim ocorrem outras guerras. E entre potências com a bomba atômica o perigo de uma eclosão global é considerável. Onde vamos parar?
Chris Hedges, em “Tudo que as pessoas deveriam saber sobre as guerras”, indica que nos últimos 3.400 anos, tivemos somente 268 anos sem guerras no mundo, ou seja, 8% de tempos de paz em nossa história. Hoje, segundo a BBC, estamos com 9 guerras em curso no mundo, no Oriente Médio, Ucrânia, Nigéria, Síria, Iémen, Somália, Sudão, Mianmar, e Burkina Faso. O homem segue o curso que se auto traçou, onde a prosperidade significa a destruição, e a racionalidade do ganho leva à irracionalidade da guerra. O desenvolvimento traz em sua semente a sua própria destruição. Se houver vida fora da Terra, pode ser que em alguns planetas isso tenha sido resolvido. Mas não aqui, por enquanto. Com a bomba ecológica e a bomba atômica, se o homem continuar a tomar decisões erradas e se auto extinguir, é porque ele simplesmente não merecia. É simples assim.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus