
Por várias vezes expressei neste espaço o meu pessimismo para com o futuro do bolsonarismo. E não foi em vão para os que creem que a boa análise possibilita a previsão. Todavia, para aqueles que tem a paixão como instrumento da política, as minhas previsões não serviram, e hoje, estão desesperados quanto ao que fazer no futuro. Contudo, creio que muitos, bolsonaristas ou não, ainda acreditam numa reviravolta, ou seja: Jair Bolsonaro será candidato em 2026.
Não sou adepto dos números. Mas dos sentimentos. Tem políticos que acreditam que os eleitores de Bolsonaro são os que decidem a eleição e, por consequência, insistem em estar perto deles. Conquistar o eleitor bolsonarista deve ser o objetivo de qualquer candidato, mas isto não significa que você precisa imitar o estilo de ser de Jair Bolsonaro. Você pode conquistar os votantes admiradores de Bolsonaro sem precisar, obrigatoriamente, ser parecido com o líder.
Os sentimentos extraídos das pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência deixam claro há muito tempo que o bolsonarismo é tóxico. Assim como o lulismo tem a sua parte tóxica. Mas este não é tão tóxico como primeiro, sem falar que o presidente Lula tem a máquina pública, tão bem conhecida dos políticos, para colocar em campo com o objetivo de conquistar eleitores, inclusive, os eleitores bolsonaristas, evangélicos, e das classes média e alta.
A eleição de 2026 será parecida com a de 2022. Vencerá o menos ruim. Portanto, como sempre digo, Lula é favorito a vencer. Enquanto a oposição e parte do centrão insistem em debater anistia, o governo Lula usa a máquina, por exemplo: 1) Isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000; 2) Minha Casa Minha Vida para a classe média; 3) Aumento dos beneficiados pela gratuidade da energia elétrica; 4) Gás do povo. Todos estes instrumentos, mais os ataques de Trump, levam o governo Lula a recuperar popularidade.
Não existe razão para Jair Bolsonaro entregar os seus votos a Tarcísio de Freitas. Entre ele e Michele Bolsonaro, quem é o melhor para 2026? A ex-primeira dama trará mais dividendos para Bolsonaro. Michele terá, obrigatoriamente, os eleitores bolsonaristas e poderá conquistar os eleitores antilulistas. Certamente, Michele estará no segundo turno, mas tende a perder a eleição, pois lhe falta discurso, espontaneidade, habilidade política, além da rejeição de Bolsonaro. Porém, Bolsonaro manterá o nome “Bolsonaro” vivo entre parcela dos eleitores. E o fundamental: O bolsonarismo, o qual é um movimento ideológico/identitário, se manterá vivo.
O bolsonarismo não acabará com a prisão de Jair Bolsonaro. A não ser que Jair Bolsonaro aceita as exigências de alguns atores políticos, qual seja: apoiar um candidato sem o nome Bolsonaro. O nome Bolsonaro precisa estar em 2026 para seguir com vida. Para manter, como já frisei, as suas ideias e sonhos presentes em parcela do eleitorado. Com Tarcísio eleito presidente, Bolsonaro adquire chances de receber o indulto. Mas não voltará em 2030, se Tarcísio for bom presidente. Com Michele eleita, poderá ter indulto e ainda voltar em 2030.
Jair Bolsonaro não voltará a presidência da República em razão de que lhe falta partido, candidatos com forte condição de vitória em 2026, grandes lideranças ao seu lado, e as instituições estão mostrando envergadura na defesa da democracia. Os líderes do centrão que defendem a anistia só ficarão com Bolsonaro se este aceitar o candidato deles, ou seja: Tarcísio de Freitas. E se Bolsonaro aceitar, o bolsonarismo, o qual ainda pode beneficiar filhos e esposa em várias eleições vindouras, tende a perder tração.
*Artigo originalmente publicado no Jornal do Commercio
Adriano Oliveira é Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa & Estratégia