Radicalização política e o custo da incerteza: o Mercado Brasileiro em xeque

Juros altos, PIB baixo, inflação resistente e câmbio pressionado: esse é o círculo vicioso que estamos vivendo. [...]


O Brasil está novamente diante de uma encruzilhada. O único candidato de direita viável, no momento, resolveu travar uma batalha aberta com o STF antes mesmo de oficializar sua candidatura. Esse movimento, além de desidratar o centro político, abre espaço para a continuidade da esquerda no poder — seja na figura de Lula, seja na de Fernando Haddad.

Esse cenário tem consequências diretas e mensuráveis sobre a economia. O Relatório Focus do Banco Central, divulgado em 08/09/2025, já reflete essa turbulência: inflação de 4,85% em 2025 e 4,30% em 2026, PIB de apenas 2,16% em 2025 e 1,85% em 2026, câmbio em torno de R$ 5,55–5,60, e uma Selic em patamar altíssimo, 15% este ano, caindo para 12,5% em 2026.

A Inflação: entre projeções oficiais e a realidade

O Focus aponta 4,85% para 2025. Eu sustento que o número real ficará um pouco acima: em torno de 5% neste ano. Para 2026, minhas estimativas são mais realistas do que as do mercado: entre 4,5% e 4,7% (contra 4,3% no Focus). E, apenas em 2027, deveremos ver a inflação finalmente entrando na banda, na casa de 3,8% a 4%. Ou seja: o Brasil não terá um retorno rápido ao centro da meta de 3%. Essa demora revela que a política monetária, embora restritiva, continua refém de expectativas fiscais frágeis e da instabilidade política.

PIB: baixo crescimento, alta desconfiança

Outro dado preocupante: o Focus reduziu a projeção do PIB de 2025 para 2,16% e para apenas 1,85% em 2026. Isso é estagnação disfarçada. A economia brasileira continua presa a um ‘pibinho’ que não gera dinamismo suficiente para sustentar emprego, arrecadação e confiança do setor privado. E não é por acaso. Quando a política se radicaliza, o investimento trava. Juros elevados e incerteza institucional são veneno para quem pensa em projetos de longo prazo.

Selic: a âncora cara da instabilidade

A Selic em 15% ao ano em 2025 é o retrato mais cruel do custo da instabilidade política e fiscal. Não há economia que consiga sustentar crescimento robusto com esse nível de juro real. Para 2026, o Focus prevê queda para 12,5%, mas isso só acontecerá se houver algum tipo de trégua política e ajuste fiscal mínimo. Sem isso, o risco é o juro permanecer alto por mais tempo, corroendo crédito e investimento.

Câmbio: o reflexo imediato da política

O Focus projeta o dólar a R$ 5,55 em 2025 e R$ 5,60 em 2026. Esse patamar já embute prêmio de risco. Não é apenas cenário externo — é a percepção de que o Brasil insiste em repetir seus próprios erros: confronto institucional, expansão fiscal e ausência de reformas estruturais. Cada crise política tem reflexo imediato na taxa de câmbio, que volta a pressionar o IPCA.

O círculo vicioso

Juros altos, PIB baixo, inflação resistente e câmbio pressionado: esse é o círculo vicioso que estamos vivendo. E tudo começa na política. A radicalização da direita fecha portas no centro e abre caminho para mais quatro anos de um governo de esquerda fiscalmente expansionista. No fim, quem paga a conta é o investidor, o empresário e o trabalhador, através de crédito caro, crescimento baixo e inflação persistente.

Conclusão

A fotografia atual é clara:

  • IPCA 2025: 5,0% (minha projeção, contra 4,85% do Focus)
  • PIB 2025: 2,16%
  • Selic 2025: 15%
  • Câmbio 2025: R$ 5,55

E mais: só em 2027 veremos a inflação mais próxima da meta, em torno de 3,8–4%. Até lá, seguiremos prisioneiros de juros altos e crescimento baixo.

A lição é simples, mas dura: sem moderação política, não há estabilidade econômica. O Brasil precisa de pragmatismo, e rápido, para quebrar esse ciclo de radicalização e estagnação.



VanDyck Silveira, Ph.D
Diretor de Estratégia e Expansão Global da UCAM
Comentarista de Economia e Política na BM&C News

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