
Depois das mais recentes trapalhadas do VAR no Campeonato Brasileiro, o ex-atacante Casagrande, dentro da sua costumeira insatisfação contra a ferramenta, destacou: “Quem comanda o VAR no Brasil trabalha contra o gol”. Torcida e clubes concordam.
O “Árbitro Assistente de Vídeo”, como o pessoal da CBF gosta de denominar o VAR, estreou em jogos oficiais no futebol brasileiro em 1º de agosto de 2018, uma quarta-feira, às 19h30min, em Santos 0 x 1 Cruzeiro, na Vila Belmiro, partida de ida das quartas de final Copa do Brasil. No jogo, o “Assistente” foi acionado só uma vez, em lance de suposto pênalti em favor do Santos, que não aconteceu.
De lá para os dias de hoje foram sete anos de críticas, até atingirmos o nível atual de rejeição. Já são sete anos de inutilidade (aqui no Brasil) para uma ferramenta que foi implantada, sob aplausos, para resolver de vez o sempre grave problema de arbitragem no futebol brasileiro, muito rico entre quem joga, mas fraco entre os que apitam.
Quando se atinge a um nível de tamanha insatisfação, como o atual, e que chega a provocar até indignação entre torcedores, clubes, treinadores, a falta de providências agrava a situação a cada rodada. E quando se observa, através de imagens das partidas na Europa e nas quais a interferência do VAR é mínima e extremamente rápida, o contraste se amplia e também se ampliam as críticas ao que ocorre aqui.
Para melhor ilustrar o assusto, recorro à experiência de um dos melhores árbitros que o nosso futebol já teve. Um juiz que se impunha pelo conhecimento das regras, pela personalidade no comando de um jogo e cultura de futebol: Renato Marsiglia. Ele observa:
“O que a gente vê é que lá (na Europa) eles interferem muito menos, mas aí não é uma questão de tecnologia, é muito mais uma questão de conceito, de treinamento; de quando você deve interferir, de quando você deve sustentar a decisão do árbitro de campo, de quando você não deve entrar em questões que são de interpretação (do árbitro). Tudo é questão de conceito”.
Pelo que assisti em várias atuações de Marsiglia (eu, trabalhando profissionalmente como jornalista em jogos), duvido que este pessoal que atua como “Árbitro Assistente de Vídeo”, em cabines na sede da CBF lá no Rio de Janeiro, peitasse Renato em lances que fossem de exclusiva interpretação dele.
O excesso de intervenções do “Árbitro Assistente de Vídeo” no trabalho que árbitro executa dentro de campo, vem provocando indagações nunca respondidas pela CBF. Por exemplo: Com a presença do VAR faltaria personalidade ao árbitro de campo? O arbitro, no gramado, se sente submisso se houver um juiz mais qualificado que ele atuando no VAR? Os árbitros estão se refugiando no assistente de vídeo com medo de tomar decisões que são de responsabilidade deles? Há abuso no uso da ferramenta?
Recorro mais uma vez à experiência de Renato Marsiglia, como arbitro brilhante que foi, na tentativa de tentar esclarecer as indagações. Diz ele:
“A questão do VAR está entre a cadeira e o equipamento: é a mão humana. E aqui (no Brasil) o VAR interfere demais, ele interfere em questões de interpretações. Ele não foi criado para isso, mas para aqueles lances claros, óbvios, inquestionáveis, que a ética repudia e que até o torcedor da equipe prejudicada concorda. Esse é o objetivo do VAR. Mas ele se expandiu, talvez por pressão da mídia, dos torcedores, da comissão técnica, dos clubes. E o VAR passou então a reapitar o jogo no Brasil”.
A CBF, como sempre, ignora críticas. Lembra apenas que o sistema de linhas usado no Brasil se equipara ao do Premier League (Inglaterra). E diz que não existe diferença no software brasileiro em relação ao da FIFA.
Então, caros amigos, fica claro que a questão VAR no Brasil tem como resultado final simplesmente a incompetência. O tema, pela relevância, merece uma nova coluna.
Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor