Felicidade Gourmet

A felicidade é um prato descomplicado de fazer. É verdade que leva vários ingredientes, pode custar caro, admite [...]

A felicidade é um prato descomplicado de fazer. É verdade que leva vários ingredientes, pode custar caro, admite variações, às vezes demora para ficar pronto, muita gente jura que o inventou, mas cada um de nós possui talento inato para alcançar as três estrelas do Michelin da vida. É fácil. Aqui vão alguns passos.

Adicione sempre um pouco de desejo à sua receita. Sem desejo, o prato não alcança o melhor sabor. Preocupações exageradas põem tudo a perder. Ansiedade queima os neurônios, e é melhor tê-los atuantes ao encarar o fogão. Cultura e conhecimento podem ser usados à vontade, senão o paladar fica minguado. A Lua deve entrar no tempero, para o cheiro subir até o espaço e atrair os vizinhos. A natureza também participa do prato, para se apurar ainda mais o gosto pela vida. Nada como polvilhar sobre o molho do dia o canto do sabiá ou do pintassilgo, como preferir. Ou o brilho de uma estrela. Providências simples, que acrescentam doçura. Poesia também entra no preparo. Substitui o sal, quando vem das entranhas. E faz bem para o coração.

Não utilize muitos ingredientes. Coisas demais na panela acabam entrando em conflito, e o paladar desanda. Lembre-se da simplicidade da água. A gente aprende que é insípida e inodora, mas que falta ela faz.

A base da receita, no entanto, continua você mesmo, suas escolhas, suas preferências. Você decide o que usar e, ao servir-se, será o supremo juiz. Chame os amigos e os parentes para ajudá-lo. Eles realçam as delícias do seu preparo e podem contribuir com um toque especial.

Importante: não se esqueça do ponto. Retire do fogo na hora certa. Tem gente que esperou tanto o prato ficar pronto que morreu antes. Com fome.

Luis Giffoni é Escritor, Membro da Academia Mineira de Letras. Prêmio Jabuti

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