
Não sei se falo “a bagunça em Brasília”, ou “a bagunça de Brasília”. É em Brasília, porque é na cidade de Brasília; mas prefiro “de Brasília”, porque lá ficam os Três Poderes da República, que não se entendem e desarranjam o país.
Wright Mills, em “The Power Elite”, diz que manda o poder econômico, garante o poder militar, executa o poder político, e media o poder intelectual, aqui entendido como universidades e imprensa. O poder político está em desarranjo, prejudicando o Brasil.
Edson de Oliveira Nunes, em “A Gramática Política do Brasil”, diz que o Brasil é composto de quatro sistemas que convivem entre si, o Clientelismo (dos favores), o Corporativismo (dos interesses), o Insulamento Burocrático (ilhas de racionalidade, politicamente preservadas, como a Petrobrás e o BNDES), e o Universalismo (por onde tramitam as ideologias e as discussões sobre os direitos, igualdade e outras). Quando as Quatro Gramáticas andam juntas, como foi com JK, o Brasil se desenvolve. Quando uma das Gramáticas “estressa” as outras, o sistema entra em desequilíbrio, gerando problemas para o país.
No caso de Brasília, os Três Poderes estão em desequilíbrio, tendo por origem a usurpação do poder pelo Congresso Nacional, que se transformou, ao logo das últimas décadas, de órgão legislativo para instituição corporativista. Do Orçamento da União, 90% são para gastos correntes; 5% para investimentos já comprometidos; e dos 5% restantes, metade, ou 2,5% do total, para gastos livres pelo Executivo, e a outra metade, os outros 2,5% do total, para emendas parlamentares. O Governo não exerce completamente sua função executiva; o Legislativo, para legislar condiciona sua atuação à obtenção de verbas; e o Judiciário, chamado a arbitrar, às vezes extrapola suas funções jurídicas.
Antes, a tentativa da quebra da ordem institucional por Bolsonaro. Agora, após a indevida entrada de Trump em assuntos internos nacionais, parlamentares mais radicais à direita ocupam o Congresso, para obterem maior imunidade em relação à Lei, no demérito da Lei.
Difícil país do futuro!
Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus