
A Teoria dos Jogos, na síntese de John Nash, Prêmio Nobel de 1994, é um excelente instrumento para a análise econômica e social. Na Teoria Econômica Clássica, de Adam Smith, se todos os agentes sociais agem racionalmente o resultado coletivo é também racional, ou positivo, como resultante da “mão invisível do mercado”. Na Teoria dos Jogos, a somatória das ações racionais individuais pode ser positiva ou negativa, por vezes com resultados irracionais para a coletividade, ou até antagônicos à sua sobrevivência.
A crise ecológica irá desestruturar a organização social, econômica e política das sociedades.
Porque os países não conseguem eliminar a pobreza, mesmo que todos os agentes sociais concordem e queiram eliminá-la em determinado tempo da história? Porque o investimento necessário para a sua eliminação não encontra os agentes sociais igualmente capitalizados e com as mesmas disponibilidades financeiras. Assim, mesmo que as intenções sejam conjunturalmente consensuais, o conjunto das ações e interesses individuais leva a direções aleatórias e opostas, resultando em uma ação coletiva não necessariamente racional. Somente em processos de ruptura do sistema a ação coletiva racional pode adequar-se a mudanças mais radicais.
Todos os esforços devem ser feitos para conter a crise ecológica, certamente, mas nem sempre eles são eficazes. Na crise ecológica, as pessoas e países encontram-se em diferentes índices de poupança, necessidades, e decisões, fazendo que não haja uniformidade nas ações individuais e coletivas, levando a consequências irracionais como resultado das ações. Assim, Estados Unidos e Noruega podem estar igualmente capitalizados e de comum acordo em suas ações, mas o Brasil e a Venezuela não, descapitalizados que são, sem percepção ecológica, e sem decisão política para enfrentar tais situações.
O mundo encontra-se em situação crítica em relação ao meio ambiente. O aquecimento global, o aumento do nível do mar, a escassez de energia, o deslocamento de parcelas significativas da população das áreas costeiras para o interior dos continentes que ocorrerá, e a diminuição da oferta de água e alimentos, levará a situações sem precedentes com guerras e pandemias, com danos irreversíveis a curto e médio prazo. O Brasil continua à margem desta discussão, na miopia e ignorância do negacionismo político, podendo ser palco futuro de formas de intervenção política e militar.
A crise ecológica será parcialmente contida por esforços individuais de pessoas e países, mas possivelmente desagregada e não efetiva em suas ações coletivas. Somente à beira do abismo, ou já no precipício, o homem é compelido a agir pela sua sobrevivência. Talvez com algum sucesso.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus