
O Potencial Agrícola de Angola
Angola possui entre 35 e 67 milhões de hectares de terras adequadas para a agricultura, segundo dados do Food and Agriculture Organization (FAO). No entanto, apenas uma fração desse potencial é atualmente explorada de forma regular. O país foi, antes da guerra civil que terminou em 2002, um dos principais produtores de café e algodão da África. Hoje, o governo angolano busca revitalizar o setor agrícola como parte de sua estratégia de diversificação econômica, reduzindo a dependência do petróleo, que ainda representa cerca de 90% das exportações do país.
O foco na agricultura não é apenas uma escolha econômica, mas uma necessidade social. Angola enfrenta desafios significativos relacionados à segurança alimentar, com grande parte da população dependente da agricultura de subsistência. Assim, o desenvolvimento do agronegócio não só impulsionar a economia, mas também melhorar as condições de vida da população rural.
Brasil e Angola: Uma Parceria Natural
O Brasil, com sua expertise no agronegócio, aparece como parceiro natural para Angola nesse processo de transformação. A semelhança climática e de solo entre algumas regiões dos dois países facilita a transferência de tecnologia e know-how. Além disso, a língua portuguesa e os laços históricos entre as nações criam um ambiente propício para a cooperação.
O comércio bilateral entre Brasil e Angola tem mostrado sinais claros de expansão. No primeiro semestre de 2023, o intercâmbio comercial cresceu quase 65% em relação ao mesmo período de 2022, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Angola já é o principal destino do capital brasileiro na África, com investimentos que alcançaram US$ 1,24 bilhões em 2021, um crescimento de 67% em comparação com o ano anterior, conforme dados do Banco Central do Brasil.
Iniciativas e Incentivos para Investidores
O governo angolano tem implementado diversas medidas para atrair o investimento estrangeiro, especialmente no agronegócio. A criação da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola (AIPEX) visa facilitar o ambiente de negócios, oferecendo incentivos fiscais, isenção de tarifas de importação para equipamentos agrícolas e facilitação na aquisição de terras.
Além disso, programas de financiamento em parceria com instituições internacionais, como o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), estão sendo disponibilizados para projetos que promovam a agricultura sustentável. O Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2023-2027 prevê investimentos significativos em infraestrutura rural, irrigação e cadeias de valor agrícola.
Casos de Sucesso e Oportunidades Emergentes
Empresas brasileiras já começam a explorar esse mercado promissor. Durante o Fórum Econômico Angola-Brasil, realizado em Luanda em 2023 e no qual assisti ao discurso do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, foram firmados diversos acordos de cooperação nas áreas de agricultura de precisão, biotecnologia e mecanização agrícola. Um dos destaques foi a parceria entre empresas brasileiras e angolanas para o desenvolvimento do Vale do Cunene, uma região com grande potencial para a produção de grãos e hortaliças.
Setores como a produção de soja, milho e café são apontados como os mais promissores, especialmente nas regiões próximas ao Corredor do Lobito, uma infraestrutura recentemente concessionada e com ambiciosos planos de investimento financiados pela União Europeia e com forte apoio Norte-Americano, conecta o interior agrícola de Angola aos portos do Atlântico, facilitando a exportação para mercados internacionais.
Desafios e Considerações Estratégicas
Apesar do potencial evidente, investir em Angola também requer uma análise cuidadosa dos riscos. Questões como a volatilidade cambial, a infraestrutura ainda em desenvolvimento e desafios regulatórios podem impactar a rentabilidade dos projetos. No entanto, com uma abordagem estratégica, mitigação de riscos e parcerias locais sólidas, essas barreiras poderão ser mitigadas.
A presença de consultorias estratégicas, como a EY, é fundamental para auxiliar empresas e investidores brasileiros a navegar nesse ambiente de negócios em transformação. A compreensão do contexto local, aliada à experiência em gestão de riscos, é essencial para o sucesso de investimentos em mercados emergentes.
Conclusão
Angola oferece uma combinação rara de potencial agrícola, incentivos governamentais e oportunidades de parcerias estratégicas para empresários brasileiros. Investir no agronegócio angolano é mais do que uma oportunidade econômica: é uma chance de contribuir para o desenvolvimento sustentável de um país com laços históricos profundos com o Brasil. Com a expertise certa e uma visão de longo prazo, essa parceria tem tudo para se transformar em uma história de sucesso no cenário internacional.
Filipe Colaço é Engenheiro Civil pela Universidade Nova de Lisboa, MBA pela Henley Business School, e Director da Consulting Services EY Angola. Tem 18 anos de experiência em companias multinacionais, como a Deloitte e Boston Consulting Group, com projetos em Energia, Agronegócios, Mineração, Construção e Sector Público